247 - O escândalo Swissleaks, das contas numeradas secretas mantidas na Suíça, fisgou alguns dos mais poderosos barões da mídia brasileira, assim como influentes jornalistas da imprensa nacional.
Na lista vazada por Hervé Falciani, ex-funcionário do HSBC, estão nomes poderosos como Otávio Frias, fundador já falecido da Folha de S. Paulo, e João Jorge Saad, o Johnny Saad, dono do grupo Bandeirantes – ambos tinham contas zeradas em 2007, ano dos registros obtidos por Falciani. A conta de Otávio Frias, depois, passou a apontar seu filho Luís Frias, um dos donos do Uol, como beneficiário.
Outro personagem curioso que aparece na lista é José Roberto Guzzo, ex-diretor de Veja e Exame e hoje conselheiro editorial da Abril, além de um dos colunistas mais mal-humorados da imprensa brasileira.
A lista também fisgou Carlos Massa, o Ratinho, do SBT, com US$ 12,4 milhões, e Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, da Globo, com US$ 750,2 mil.
A maior soma na lista é a de Aloysio de Andrade Faria, dono da Rede Transamérica, com US$ 120,5 milhões. Depois dele, aparecem Yolanda Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, Paula Frota Queiroz e Edson Queiroz Filho, do grupo Verdes Mares, afiliado da Globo no Ceará, com US$ 83,9 milhões. Fernando João Pereira dos Santos, da Rádio Tribuna, do Espírito Santo, mantinha US$ 9,9 milhões.
Além deles, aparece ainda Luiz Fernando Levy, que quebrou a Gazeta Mercantil, deixando um rastro de dívidas tributárias e trabalhistas.
Entre os jornalistas assalariados, além de Guzzo, destaque para Mona Dorf, que apresenta um programa na Joven Pan ao lado de Reinaldo Azevedo, com US$ 310 mil. Arnaldo Bloch, colunista do Globo, também foi correntista do HSBC de Genebra, assim como a família Dines, que, à época manteve US$ 1,3 milhão no banco suíço.
Todos os personagens citados alegam manter contas regulares e declaradas – o que deve ser verificado pela Receita Federal. A divulgação da lista de barões da mídia, no entanto, coloca em xeque o trabalho de Fernando Rodrigues, jornalista do Uol que foi escolhido pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos para receber o material. Não foi Rodrigues quem divulgou o nome de seu patrão, Luís Frias, mas sim os repórteres Chico Otávio, Cristina Tartáguila e Ruben Berta, do jornal O Globo.
Entenda o caso:
A onda de suspeitas sobre o HSBC surgiu em 2007, quando Hervé Falciani, ex-funcionário da área de tecnologia da informação da filial do banco na Suíça obteve os dados de 106 mil clientes de alto perfil em cujas contas tramitavam bilhões de euros.
Entre eles estavam empresários, políticos, estrelas do showbizz e esportistas, mas também traficantes de drogas e armas e suspeitos de ligações com atividades criminosas e mafiosas.
O banco era usado por "clientes" que se aproveitava do sigilo bancário do país (paraíso fiscal) para manter contas não declaradas – com o provável objetivo de evitar pagamento de impostos ao até mesmo lavar dinheiro.
Falciani fugiu da Suíça com o material, a fim de evitar ser processado pelas leis locais e acabou entregando os dados para autoridades francesas em meados de 2007.
Com base nos dados obtidos com Falciani, a França abriu uma investigação sobre cidadãos franceses que estariam mantendo contas secretas na Suíça.
Mas os dados dos documentos deram origem também à chamada "Lista Lagarde", que resultou em prisões e tentativa de recuperação de recursos financeiros na Grécia, na Espanha, nos Estados Unidos, na Bélgica e na Argentina.
O governo britânico recebeu a lista e identificou mais de mil sonegadores. Cerca de 135 milhões de libras foram recuperadas silenciosamente e uma pessoa foi detida.
Os documentos vazados por Falciani também incluem dados sobre 5,5 mil contas secretas de brasileiros, entre pessoas físicas e jurídicas, com um saldo total de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões).
O Brasil, de acordo com o consórcio de jornalistas ICIJ, está em nono lugar na lista de 203 países com a maior quantia em dólares nos documentos vazados da filial suíça.
Os nomes citados serão investigados por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
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