Alencar é exemplo de luta contra o câncer, diz médico em biografia
No prefácio de "José Alencar - Amor à vida", biografia do ex-vice-presidente morto nesta terça-feira após 13 anos de luta contra o câncer, o médico oncologista Paulo Hoff afirma que a decisão de Alencar de "nunca esconder seu real estado de saúde (...) acabou por transformá-lo em exemplo e estímulo para milhares de brasileiros que enfrentam essa terrível doença".
Hoff ajudava a cuidar da saúde de Alencar desde julho de 2006, ao lado dos médicos Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi.
No texto que abre o livro da jornalista Eliane Cantanhêde, lançado em novembro de 2010 pela editora Sextante, Hoff narra os "altos e baixos" do tratamento e revela que o ex-vice-presidente "nunca esmoreceu, se revoltou ou deixou de fazer o que lhe era recomendado".
Recebi com satisfação a tarefa de escrever o prefácio deste livro cujo personagem principal é nada menos que o nosso querido vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva, alguém que aprendi a respeitar como político e a admirar como ser humano. Além das qualidades bem conhecidas por todos, Alencar se destaca por ser um patriota e um profundo conhecedor da
história brasileira. Eu diria que é impossível conhecê-lo e não gostar dele.
Meu primeiro contato com o vice-presidente foi em julho de 2006, quando foi feito o diagnóstico de um sarcoma no retroperitônio. Fui chamado pelos doutores Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi, estrelas da medicina brasileira, para opinar sobre o caso. Não foi uma tarefa fácil, pois tratava-se do vice-presidente da nação – e justamente em época de eleição! Além disso, eu tinha
acabado de chegar ao país e estava me familiarizando com o caso, enquanto os outros colegas já o conheciam havia muitos anos. Não é surpresa, portanto, que nosso relacionamento inicial tenha sido bastante formal.
O próprio Alencar gosta de dizer que mineiro é desconfiado,
'porque atrás de morro tem morro', e faz questão de saber todos os detalhes de sua doença e de
seus tratamentos."
Trecho de 'José Alencar - Amor à vida
Tive a oportunidade de conhecê-lo de forma mais profunda quando viajamos juntos para Nova York em novembro do mesmo ano, para a primeira operação feita pelo Dr. Murray Brennan, do Memorial Sloan Kettering, e pudemos conversar longamente. O próprio Alencar gosta de dizer que mineiro é desconfiado, “porque atrás de morro tem morro”, e faz questão de saber todos os detalhes de sua doença e de seus tratamentos.
Também foi nessa viagem que conheci outra faceta do vice-presidente, a de não esconder seu real estado de saúde. Seu pedido para que não ocultássemos nada da imprensa – e, portanto, do público – acabou por transformá-lo em exemplo e estímulo para milhares de brasileiros que enfrentam essa terrível doença.
Obviamente tivemos altos e baixos durante o tratamento, e dou meu testemunho de que ele nunca esmoreceu, se revoltou ou deixou de fazer o que lhe era recomendado.
Em setembro de 2009, o vice-presidente compareceu a uma sessão solene da Câmara Distrital, na qual recebi o título de Cidadão Honorário de Brasília, emocionando a todos com seu discurso e com sua garra, ainda mais impressionante porque o tratamento experimental a que se submetia nos Estados Unidos havia falhado e ele estava visivelmente doente.
Quando [Alencar] nota alguém desanimado em relação à doença, repete sempre o brado do Almirante Barroso na batalha do Riachuelo: 'Sustentar o fogo que a vitória é nossa!'"
No dia seguinte, fui chamado ao Palácio do Jaburu e pela primeira vez o encontrei desanimado. Caminhamos juntos próximo ao lago, e ele parecia decidido a não se submeter mais à quimioterapia, aceitando o seu destino. Após conversarmos longamente, animou-se e resolveu continuar o tratamento. Para nossa alegria, teve uma resposta espetacular, que durou um ano inteiro.
Em outubro de 2010, infelizmente, o quadro voltou a se agravar e ele está fazendo quimioterapia e lutando pela vida, uma constante nos últimos quatro anos. Como sempre, continua a despertar
grande admiração por sua perseverança no combate ao câncer e a liderar pelo exemplo. Quando nota alguém desanimado em relação à doença, repete sempre o brado do Almirante Barroso na batalha do Riachuelo: “Sustentar o fogo que a vitória é nossa!”
Paulo Hoff
Oncologista do Hospital Sírio-Libanês e professor titular de Oncologia Clínica da USP"
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