terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Militar preso após entrevista ao Tribuna da Bahia 

Advogado e capitão do Exército Brasileiro, o baiano Mário Soares, conhecido como capitão Marinho, foi preso no 3º. Batalhão Logístico do Exército, em Bagé dias depois de conceder entrevista exclusiva para esta Tribuna sobre o caos na segurança pública do país, publicada na edição do dia 4 de janeiro. Marinho lançou em dezembro passado o livro “Exército na Segurança Pública”, uma crítica à presença do Exército na segurança pública e também às relações raciais.
O militar conseguiu conversar com a reportagem, exclusivamente, pelo celular e afirmou não entender os motivos da prisão. “Disseram que eu era desertor, mas no dia 31 de janeiro me apresentei ao  coronel Juliano, chefe da 6ª Região Militar, em Salvador. Tive problemas de saúde e entreguei ao major Nivaldo o atestado, no qual o médico me dispensava de atividades físicas", informou.
Ele está muito preocupado e conta: “da forma como fui preso, acho que tem um cunho político e por ter dado entrevista à Tribuna, manifestando minha opinião sobre a  segurança pública do país”. A preocupação do militar está também ligada aos seus pais que estão doentes e vivem com a sua única irmã que é deficiente físico.
“Fico triste com esta situação por causa de meus pais,  sou curador de meu pai que vive em cima de uma cama e minha mãe está com depressão”, desabafou. “Minha única esperança é o contato com minha advogada para que ela entre com uma solicitação de habeas corpus, pois estou me sentindo muito mal, com depressão e sem direito a tomar o remédio que foi prescrito pelo médico para ingerir todo dia , o sertralina, e eles não me dão”.
Marinho disse ainda que até a medalha com a santinha que usava no pescoço lhe tiraram, alegando que “isto é para que você não cometa suicídio com esta corrente”. No entanto, “estou sozinho em uma sala  com vidros quebrados, se estão preocupados se vou atentar contra minha vida por que então me colocaram em uma sala com vidros quebrados”?, indaga.
A descrição da sala em que o militar está é chocante, segundo informou, é toda branca, guarnecida por soldados na porta. Ele disse ainda que sem remédios para depressão , procura fazer caminhadas de um lado para outro na sala para se exercitar de qualquer forma, desviar a atenção , porque se ficar parado o problema pode se agravar, contou.

Capitão Marinho e seu livro
Natural de Salvador, o capitão Marinho lançou o livro “Exército na Segurança Pública”, no final do ano passado, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, o evento foi muito concorrido com a presença de políticos, autoridades, intelectuais e pessoas dos mais variados segmentos da sociedade.
Na entrevista publicada na Tribuna, Marinho explica o que é segurança pública na sua concepção. “Há um equívoco no entendimento das pessoas em relação ao conceito de segurança pública. Ao contrário do que muita gente pensa, a segurança pública não se resume apenas na ação policial. Nosso modelo está errado pelo fato de nossas autoridades acharem que a segurança pública se resolve com ações policiais, ainda que seja de repressão e prevenção”.
Para o militar “a segurança pública vai muito além de ações policiais, tem que haver uma interação entre as secretarias, (segurança, educação, cultura, saúde, esporte) se estendendo às prefeituras, ao governo federal, ao Legislativo, Judiciário, enfim, todos os órgãos têm que atuar juntos objetivando a paz social.”
Em seu livro, capitão Marinho escreve que “a desmilitarização nas atividades policiais é imprescindível para um policiamento eficiente e legal. Os armamentos adotados pelos militares têm capacidade de perpassar e destruir várias pessoas, pois os militares têm na força de seus armamentos a condição única de sua existência. Reza o Protocolo da ONU – sobre o uso de armas pelos guardiões da lei – que o emprego da arma de fogo em atividades de segurança deverá ser sempre comedido e na proporção do delito. Logo, a atividade de segurança pública desenvolvida pelo Exército é uma afronta ao Estado Democrático de Direito”.
E diz mais ainda “os militares são treinados para empregar a força de forma indiscriminada; alheio à situação bélica do inimigo, seu objetivo é fazer com que o inimigo aceite sua vontade pelo medo da força excessiva que o ameaça. Por isso, os militares têm a truculência como atributo inerente à profissão e a personalidade desenvolvida e cultuada nos quartéis é de agressividade, destemor à morte e de eliminação do oponente a qualquer custo.
 Ou seja, querer que os militares do Exército empreguem a força somente se necessário e de forma comedida, como devem ser as ações policiais em um Estado Democrático de Direito é a mesma coisa de querer criar uma onça como um gatinho de estimação, é contrariar a natureza. Os militares do Exército são treinados para não ter compaixão, para beber o sangue do inimigo como se bebe um copo de água gelada em uma tarde quente de verão”, publicou.
 No livro ainda consta que “... o preparo do Exército para desenvolver ações de Polícia enfraquece a Defesa Nacional, pois o preparo para estas ações faz com que a Força Terrestre fique estagnada na preparação para defender a Pátria, colocando em risco a soberania brasileira; e, por fim, quem estará na frente dos canos dos fuzis e dos canhões dos militares, quando estes estiverem atuando na Segurança Pública, são os seus compatriotas. Ou seja: será uma guerra contra o povo brasileiro!”.

0 comentários:

Postar um comentário

A opinião do nosso leitor é: